A (dis)função do diagnóstico: uma leitura psicanalítica sobre o DSM
DOI:
https://doi.org/10.17267/2317-3394rpds.2022.e4136Palavras-chave:
Psicanálise, Diagnóstico, Psicopatologia, DSMResumo
INTRODUÇÃO: Partindo da interrogação sobre a função do diagnóstico, reconstrói-se um panorama histórico sobre o diagnóstico para a psiquiatria e os (des)enlaces com a psicanálise. OBJETIVO: Examinar os compromissos e as diferenças do diagnóstico para os diferentes campos. METODOLOGIA: O presente artigo teve como orientação de pesquisa o que Canguilhem (1975) define como trabalho de conceito. A partir de uma epistemologia específica, essa posição baseia-se no princípio de que é preciso partir de uma articulação conceitual para se falar de um fenômeno. Assim, foi realizado um percurso exploratório sobre o diagnóstico para o campo da psiquiatria e da psicanálise. RESULTADOS: A eliminação do aspecto subjetivo como critério elementar para realizar a avaliação diagnóstica a partir da terceira versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) demarca uma ruptura irreparável com a psicanálise, uma vez que nega aquilo que lhe é mais caro. Se o objeto da psiquiatria é o fenômeno observável, a psicanálise se volta para a escuta das ranhuras, ponto opaco em que a nomeação generalista não dá conta de apaziguar a angústia. Isso não requer a negação dos sintomas observáveis, tendo em vista que é possível se servir deles sem, no entanto, reduzir a escuta clínica à mera classificação fenomenológica. CONCLUSÃO: A aposta na singularidade da construção sintomática é o que permite a emergência da subjetividade, negligenciada na universalização diagnóstica contemporânea.
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