O plantão psicológico na perspectiva do usuário: considerações fenomenológicas sobre cuidado e crise
DOI:
https://doi.org/10.17267/2317-3394rpds.2025.e6284Palavras-chave:
Plantão Psicológico, Acolhimento, Saúde Mental, CriseResumo
INTRODUÇÃO: O plantão psicológico constitui uma forma de atendimento que rompe com os modelos psicoterapêuticos tradicionais, ao priorizar a escuta imediata e o acolhimento humanizado de pessoas em sofrimento psíquico. Essa prática, cada vez mais presente nas Instituições de Ensino Superior (IES), evidencia-se como estratégia de cuidado em saúde mental. OBJETIVO: Este estudo teve como objetivo compreender a experiência de usuários do plantão psicológico oferecido pelo Laboratório de Estudos em Psicoterapia, Fenomenologia e Sociedade (LAPFES), vinculado à Clínica-Escola da Universidade Federal do Ceará. MÉTODO: Configura-se como uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, onde foram realizadas entrevistas semiestruturadas com usuários do serviço, e os dados foram analisados à luz do método fenomenológico empírico. RESULTADOS: A análise revelou três categorias centrais: (1) o plantão como lugar de cuidado singular e acessível; (2) a crise como impulso à ressignificação da existência; e (3) a articulação do plantão com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). DISCUSSÃO: Os achados indicam que o plantão psicológico se apresenta como uma prática potente no acolhimento imediato de demandas emergenciais, promovendo escuta qualificada e facilitando o acesso à rede de cuidado. Contudo, a ausência de reconhecimento formal desse serviço nas políticas públicas limita sua integração plena à RAPS. CONCLUSÃO: Conclui-se que os plantões psicológicos realizados em IES desempenham um papel relevante na promoção do cuidado em saúde mental e no fortalecimento da rede de atenção. Recomenda-se sua inclusão oficial como dispositivo da RAPS, ampliando seu potencial de atuação na esfera pública.
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